domingo, 22 de novembro de 2009

As mulheres e a química


Assim como as demais “ciências exatas”, a química, até algum tempo atrás, tratava-se de uma ciência praticada quase que exclusivamente por homens. Muitas mulheres, contudo, ao longo da história dessa ciência têm, direta ou indiretamente, contribuído para o seu progresso.
Desde 1901, apenas três mulheres – Marie Curie, sua filha Irène Joliot-Curie e Dorothy Hodgkin – receberam o prêmio Nobel de Química. Além de terem recebido o prêmio Nobel, outros dois pontos em comum podem ser apontados na vida dessas mulheres: todas demonstraram precocemente interesse pela ciência, tendo crescido num ambiente intelectual bastante estimulante, em função das atividades exercidas por seus pais e amigos de família, o que demonstra a influência marcante do meio no despertar das vocações. Além disso, tiveram notável participação política nas questões sociais mais importantes de sua época.


Marie Curie

Filha de intelectuais, sendo o pai professor e a mãe diretora de uma escola para moças, Marie Curie nasceu em Varsóvia, Polônia, em 7 de novembro de 1867. Em função de uma fracassada insurreição polonesa contra os russos em 1873, sua família sofreu perseguições políticas, atravessando momentos de grande dificuldade financeira. Esses fatos parecem ter tido forte influência sobre Marie, que demonstraria sempre, ao longo de sua vida, ser possuidora de espírito combativo e empreendedor.
Marie, atendendo pedido de sua irmã Bronia, foi juntar-se a ela em Paris, onde conheceu Pierre Curie, seu futuro esposo. Marie recebeu o Prêmio Nobel de Física em 1903, juntamente com seu marido Pierre e Henry Becquerel, por suas pesquisas em radioatividade (neologismo introduzido pela própria Marie). Marie e Pierre isolaram o rádio e o polônio em 1898, com este último recebendo seu nome em homenagem à pátria natal da cientista. O Prêmio Nobel de Química de 1911 lhe foi conferido “pelos serviços prestados ao avanço da Química pela descoberta dos elementos rádio e polônio”. Marie foi a primeira mulher a se tornar professora na Sorbonne, e também a primeira cientista a receber dois prêmios Nobel. Faleceu tuberculosa e quase cega, em um sanatório nos Alpes franceses, em 7 de julho de 1934, em conseqüência das fortes doses de radiação a que ficou submetida durante os vários anos de trabalho.

Irène Joliot-Curie


Irène Joliot-Curie recebeu o Prêmio Nobel de Química em 1935, “em reconhecimento por sua síntese de novos elementos radioativos”, feita ao bombardear alumínio com partículas alfa. Após a remoção da fonte das partículas, observou que o alumínio, depois de expelir nêutrons, continuava a emitir radiações, as quais foram atribuídas a um isótopo radioativo de fósforo (isótopo até então desconhecido), não encontrado na natureza.
Filha mais velha do casal Curie, cresceu num ambiente intelectual efervescente, propiciado não apenas pelos próprios pais, mas também pelos amigos destes, como Jean Perrin e Paul Langevin, que trabalhavam em física atômica, ainda pouco conhecida na época. Os filhos das famílias Perrin, Langevin e Curie não freqüentavam a escola primária pública, como a maioria das crianças, tendo como professores os próprios pais.
Como estudante de química na Sorbonne, Irène ficou cada vez mais envolvida nos esforços de guerra durante o primeiro conflito mundial, tendo auxiliado a mãe nas unidades móveis de radiologia, ao atuar como enfermeira. Em 1938, enquanto bombardeava átomos de urânio com nêutrons, detectou a produção de um elemento radioativo com meia-vida de 3,4 horas. Otto Hahn, ao repetir seus experimentos, sugeriu que o fenômeno devia-se à divisão do núcleo do urânio em dois outros núcleos, de massas aproximadamente idênticas. Irène esteve, portanto, muito perto de descobrir a fissão nuclear. Porém, como ocorrido com a descoberta do nêutron em 1932, por James Chadwick, a interpretação correta de seus experimentos foi efetuada por outros, que receberam as glórias.
Depois da rendição francesa para a Alemanha em 1940, permaneceu em Paris ao lado do marido, que havia ingressado no movimento de resistência. Em 1944, foi enviada, juntamente com os filhos, para a Suíça, uma vez que a organização de resistência temia represálias, caso Fréderic fosse preso. Foi nomeada chefe da “section chimie” da Comissão Francesa de Energia Atômica, em 1946. Sendo vítima da chamada Guerra Fria, teve sua entrada nos Estados Unidos negada em 1952, e seu pedido de filiação à American Chemical Society foi rejeitado em 1953. Morreu de leucemia, causada pela radiação à qual ficou submetida durante tantos anos.

Dorothy Hodgkin

Dorothy Mary Crowfoot Hodgkin nasceu no Cairo, Egito, filha de pais ingleses: John Winter Crawfoot, inspetor do Ministério da Educação e Grace Mary Hood Crowfoot, destacada botânica. Em função das atividades exercidas por seus pais, Dorothy viajou bastante e teve acesso a uma formação rica e variada.
Já aos dez anos de idade, ao ser introduzida aos estudos de química, Dorothy encantou-se com a beleza e elegância dos cristais, proporcionadas pela simetria de suas estruturas. Em 1923, após visita ao Wellcome Laboratory, onde trabalhava A.F. Joseph (um amigo de seu pai), Dorothy montou um “laboratório” no sótão de sua casa. Em 1925, sua mãe deu-lhe de presente o livro Concerning the nature of things, de sir Wiliam Henry Bragg, intensificando seu interesse pelos cristais.
Estudou em Oxford, transferindo-se, após sua graduação, para Cambridge, onde trabalhou com John D. Bernal. Doutorou-se em 1937 com uma tese sobre química e cristalografia dos esteróides. A Segunda Guerra Mundial terminou por criar uma grande demanda pela penicilina, motivando Dorothy a estudar derivados dessa molécula, uma vez que informações sobre sua estrutura poderiam ser de grande ajuda no desenvolvimento de métodos para sintetizá-la em grandes quantidades. Uma substância similar à penicilina, sendo porém estável em meio ácido, é a cefalosporina C, que tornou-se também objeto de estudo do grupo liderado por Dorothy. Ao longo de todos esses estudos, muitas técnicas novas foram introduzidas, expandindo os usos da cristalografia.
Dorothy recebeu o Prêmio Nobel de Química em 1964, por seus trabalhos na determinação estrutural de várias moléculas biológicas, entre estas a vitamina B12 e a penicilina, tendo também determinado a estrutura da insulina. Foi presidente da Conferência Pugwash sobre ciência e assuntos mundiais, nos anos 70. Faleceu em 1994.

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